30 anos revista MACAU: Relembrar Miguel Torga
Em Junho de 1987, Miguel Torga aparecia na capa da MACAU com uma criança chinesa ao colo. O escritor português estava de passagem por Macau e assinalava o momento nas páginas 12 e 13 da publicação.
“Nunca soubemos olhar-nos a frio no espelho da vida. A paixão tolda-nos a vista. Daí a espécie de inocência com que actuamos na História. A poder e a valer nem sempre temos consciência do que podemos e valemos. Hipertrofiamos provincianamente as capacidades alheias e minimizamos acerbamente as nossas sem nos lembrarmos sequer de que uma criatura só não presta quando deixou de ser inquieta. E nós somos a própria encarnação da inquietação. Quatrocentos anos depois de a termos alargado até este Extremo Oriente estamos aqui a despedir-nos dum recanto da Pátria e a evocar Camões. Não, como disse, por feliz coincidência de datas, mas propositadamente. Numa circunstância tão significativa, tudo quanto disséssemos e fizéssemos à revelia do maior de todos os portugueses seria lamentavelmente negativo. Sem a benção do seu nome nem daríamos um penhor válido de nós nem poderíamos ter a certeza de voltar. De voltar eternamente.”
Miguel Torga
[Este texto faz parte de uma série preparada pelo Extramuros onde relembramos alguns dos momentos que marcaram as três décadas da revista MACAU, uma das mais antigas publicações em língua portuguesa ainda em circulação]
Outros posts:
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