30 anos revista MACAU: Medir o pulso à felicidade
A Associação de Ciências Económicas tinha acabado de lançar, em 2012, uma edição do Índice de Felicidade, que teve por base um inquérito a 958 pessoas, e descobriu que Macau tinha caído 1,1 pontos em relação ao ano anterior. Tendo por base esta premissa, Sofia Jesus procura o segredo da felicidade entre a população, na edição de Junho de 2012 da revista MACAU.
Os peritos dizem que a quebra “está ligada ao aumento do custo de vista”, enquanto os investigadores concluem que “foi entre as famílias com filhos que o nível de felicidade mais desceu e salientam, entre os factores negativos, alguma insatisfação face à saúde pessoal, às relações familiares e ao modo de governação.”
“Uma vida em paz faz-me feliz”, diz Sam Sou, que tem uma banca no mercado de São Domingos, citada no artigo. A paz desta mulher de 53 anos “é feita de ‘um corpo saudável’”, que nem sempre teve, e de “um rendimento estável, não necessariamente elevado”. Sorri “muito” porque “está a conseguir vender”, mas trabalha seis dias por semana, das oito e meia da manhã às sete da noite, sem pausas para almoço.
Já Wong Chi Kan, 77 anos, que se encontra atrás da banca da Avenida Almeida Ribeiro, onde vende cigarros, lenços e pacotinhos de chá de limão, diz que o dinheiro conta quando se fala de felicidade. “Dinheiro é igual a rendimento, que é igual a vida estável, que é igual a não termos de nos preocupar com muito.” Com os filhos a terem um emprego estável, “é feliz”. O emprego “monótono” que tem desde os 17 anos não o incomoda. Ter “família grande” também conta, bem como ir “com os parentes a um yam tcha”, “acordar à meia-noite para ver um jogo de futebol na televisão” ou “levantar-se todos os dias às cinco da manhã para correr.”
Catherine Almazan, 37 anos, filipina, vivia há sete anos no território, mas tinha deixando nas Filipinas a filha. “É duro,” diz. “Há momentos bons e maus, mas é preciso ‘olhar para as pétalas da rosa, não para os espinhos. De contrário, o que acontece? Passamos a vida à procura de algo que não chega.” Assim, para ela, “felicidade passa por estar em Macau e poder garantir os estudos da filha”, ainda que depois admita “não” haver felicidade no seu coração.
Já o advogado Frederico Rato, 64 anos, tem uma percepção diferente. “É ‘ter nascido e estar vivo, é respirar e beber água, é ser livre e viver em liberdade”. É “saber ler” e “ouvir música”. Está nas pequenas coisas. “Felicidade para mim foi ter vivido o 25 de Abril.”
Primeiras páginas da reportagem “Medir o pulso à felicidade” de Sofia Jesus. Fotografias de Gonçalo Lobo Pinheiro. Revista Macau, IV Série, n.º 27, Junho de 2012
[Este texto faz parte de uma série do Extramuros em que se recuperam alguns dos momentos que marcaram as três décadas da revista MACAU, uma das mais antigas publicações em língua portuguesa ainda em circulação]
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